A evolução do ato de presentear: da antiguidade aos dias atuais

Evidências arqueológicas sugerem que grupos de caçadores-coletores praticavam a troca de bens para fortalecer laços sociais e estabelecer alianças.

Com o início da organização dos seres humanos em pequenos grupos após o domínio de técnicas de cultivo de alimentos e criação de animais, os presentes logo surgiram como tributos trocados entre governantes e elites, atuando tanto como forma de diplomacia quanto como mecanismo de reciprocidade, como mostram registros cuneiformes dos sumérios e de outras culturas mesopotâmicas.

As primeiras grandes civilizações egípcias, gregas e romanas também utilizavam-se de presentes com diferentes propósitos. A conotação religiosa dos presentes era mais associada ao Egito Antigo, sendo uma forma de honrar seus deuses. Ja na Grécia e em Roma, os presentes eram oferecidos em celebrações festivas e jogos, como parte da cultura de honra e gratidão.

Na China, presentear era uma forma de desejar sorte, riqueza e felicidade, especialmente com itens de cores vermelhas, douradas e amarelas, muito presentes até hoje na cultura da região.

Durante a idade média, o ato de presentear tornou-se mais formal e simbólico. Nobres e reis trocavam presentes de alto valor de forma diplomática, a fim de fortalecer alianças políticas e selar acordos comerciais, inclusive com dotes de casamento.

Com as hierarquias da sociedade tornando-se cada vez mais rígidas, seja na esfera social ou religiosa, os presentes começaram a ser utilizados de forma a demonstrar lealdade ou até submissão a um soberano, seja um civil ou religioso.

Religiosos doavam ouro, especiarias e joias com o objetivo de obter seu “lugar no paraíso”. Por outro lado, a igreja e os nobres presenteavam seus fiéis em datas festivas de forca a recompensar sua fidelidade.

Nessa época ganham força as artes da tapeçaria, ourivesaria e escultura, tornando os presentes verdadeiras obras de arte.

No período renascentista, os presentes assumiram um caráter mais personalizado e exclusivo. A corte e a classe burguesa europeia passaram a valorizar cada vez mais o intelecto e a arte, dando espaço para o surgimento de manuscritos, poemas, pinturas e esculturas no rol de presentes da época.

Com o crescimento do comércio global, a Europa passa a acessar tecidos vindos do império chinês, fazendo uso desses para embrulhar os livros e obras de arte.

Na Ásia, especialmente na China, a troca de presentes também começava a ganhar relevância em outras esferas da sociedade.

Com o início da revolução industrial o acesso a bens industrializados foi ficando cada vez maior. Marcada pelo auge da industrialização e expansão britânica, houve um impulso para o aumento da capacidade produtiva da sociedade como um todo, incentivando o consumo.

Com isso, a troca de presentes tornou-se uma parte essencial das celebrações familiares e eventos sociais, rompendo os ciclos burgueses e tornando-se cada vez mais parte do dia-a-dia da classe trabalhadora.

A etiqueta vitoriana, característica pela moralidade e uma rígida boa conduta, estabeleceu regras específicas para o ato de presentear, como enviar cartões com imagens, como mostrado ao lado, e notas de agradecimento.

No século XX, com o avanço da comunicação, desde o amplo acesso às rádios até os celulares, e o aumento do consumo, o ato de presentear tornou-se ainda mais diversificado.

O desenvolvimento econômico originou uma ampla gama de produtos, tornando cada vez mais personalizada a escolha de presente. A sociedade capitalista entendeu que celebrações festivas como dia das mães, dos pais, das crianças, do cliente, dos namorados e o natal, são fortes indutores de consumo, aumentando ainda mais a importância socioeconômica do ato de presentear.

Com o avanço do comércio eletrônico pela internet, a compra foi facilitada, permitindo o envio de presentes sem que esses sejam entregues em mãos, rompendo uma prática histórica que envolvia a entrega do presente pelo remetente ao destinatário.

Essa ruptura gera não só uma oportunidade de presentear mais pessoas, mas também uma responsabilidade na escolha do mesmo e na criação de todo o conceito (embalagem, produto e mensagem), de forma a levar todo o simbolismo que um presente sempre carregou: gratidão, lealdade, exclusividade, etc.